Tuesday, January 15, 2019

Autópsia à alma/Biópsia à alma


Os órfãos de Deus são parricidas.
São pó e cinza, quando o sangue deixa de lhes correr nas veias
E o corpo cinzento desce à fria terra ou entra na fornalha.
Uma sombra que se esfuma e dispersa pela esfera que habitamos.

Os eleitos são imorredouros,
Sentam-se à direita do pai num festim de vinho e mel.
Colhem do sacrifício doces frutos e não sentem frio nem fome.
Uma eterna recompensa, como animais amestrados que deixam de mijar no tapete.

Seja, também eu, pó e nada,
E fique em tudo a remota memória, menos,
Uma impressão do que fui.
Que tenha fim a vergonha, a fraqueza, a queda e o fracasso que Dele herdámos.
Que as minhas pegadas na areia da praia sejam sempre apagadas pela pureza obstinada das ondas.

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