Será legítimo matar quem matou?
É certo que poucas vezes nos orgulhamos de ser portugueses, e é verdade que temos poucos motivos para isso, uma dessas poucas razões é termos sido o primeiro país europeu a abolir a pena de morte. Falo da pena de morte porque os Estados Unidos, mais concretamente o Estado da Califórnia e o seu governador- o Exterminador Implacável, assassinaram na madrugada de quarta-feira Stanley Tookie Williams. Tookie foi condenado à morte no ano em que nasci- 1981, ausado de matar 4 pessoas. Desde então remetido às 4 paredes da sua cela de 3 metros quadrados, Tookie, sempre reclamando a sua inocência, esperou pacientemente que o governo do seu estado o matasse. A pena de prisão serviu para que Tookie se redimisse, passou de líder de um violento gang de Los Angeles a militante anti-violência. De criminoso a várias vezes nomeado para o Nobel da Paz. Esta metamorfose vem descrita no livro que escreveu (entre muitos outros, costuma-se dizer que quem é preso escreve um livro...) com o sugestivo título de Redemption. Se aconteceu com Tookie, porque não há-de acontecer com outros? Que legitimidade tem o Estado, que repudia o assassinato, de matar?
Ouço muitas vezes as pessoas gritarem a sua indignação contra assassinos, pedófilos e outros criminosos, e interrogarem-se como seria o nosso país com a pena de morte. A resposta é bem simples: um país menos civilizado. Um país que não dá a quem erra a hipótese, o direito de se redimir. E isso mete medo.