Thursday, September 15, 2005

Memória Recuperada

Águas fétidas sepultam exércitos de eras distantes.
As armas brilham como peixes carnívoros.
Dentes afiados que apodrecem.
Não sopra o vento, mas se soprasse seria o cheiro da morte,
Do sepulcro vandalizado pelo tempo.

Pontes inacabadas e suspensas por fios invisíveis.
“A luz não é real” – disse alguém imerso na escuridão, olhos vazios.
“As criaturas rastejantes são desagradáveis à vista, mas agradáveis ao tacto”.
Toquei-lhe na anca e a morte sorriu.


2004

3 comments:

Anonymous said...

Finalmente de volta.
Bjs Eva

Vitor Soares said...

Muito bom mesmo :)

Anonymous said...

Bem... que regresso espantoso! O poema é perfeito. Adoro a perversidade e o render ao inevitável. Adoro o cenário de trevas e a mensagem. Adoro a negação! A LUZ é real, é preciso abrir a alma e o coração. Muito bom, amigo e… as melhoras da gripe!

Deixo-te, também, algumas palavras sobre "palavras" do "meu" poeta.

"Nós não podemos dominar a móvel rede do sentido
nem alisar o líquido tapete das analogias
Cada palavra é uma abertura para o insondável
antes de ser uma relação horizontal com as outras palavras

(...)

É o inconcebível infinito o seu puro nada
que nas palavras ressoa com a incandescência do ser"


António Ramos Rosa, As Palavras, p.17.

1 beijo
S.M.