Das maiores injustiças neste mundo, que parece ser capaz de gerá-las a todo o instante, nada me parece pior do que isto: apresentar-se uma opinião sobre quem não se conhece. Os jornais e outros meios de difamação, mais do que de informação, chamaram-lhe “monstro”. Monstruoso, verdadeiramente monstruoso, é o que lhe continuam a fazer.
Quem o conhece bem, entende o ser doce e sensível que o meu Apolo é. Guardo numa gaveta na minha mesa de cabeceira os poemas que me escreveu, um prodígio de sentimento em forma de sonetos. Gostava que os lessem. Não nego que, em certas ocasiões, deixa de ser ele. Não o faz por vontade própria. Tenho percebido que Apolo é muito nervoso. Lembra uma mola que vai sendo comprimida até ao limite e depois explode.
É hora de fazer um mea culpa. Sou eu a real culpada. Quantas vezes fui a causadora dessa perturbação? Coisas que poderia ter feito na perfeição caso não fosse tão negligente e desastrada, houve tantas! Dizem que me batia, não nego que seja verdade. Fazia-o por amor, para que eu fosse melhor. O monstro, o verdadeiro monstro, sou eu, Dafne Loureiro. Forcei-o a tudo que fez. Tivesse eu mais cuidado e as coisas não chegariam a este ponto.
Foi por minha causa que aquele homem morreu. Também o senhor teve culpa, afinal ignorou a sabedoria popular e isso nunca é boa ideia. Com toda a certeza que teria já ouvido: “entre marido e mulher não metas a colher”. O que Apolo estava a fazer, fui eu quem o forçou a isso. Por isso digo, é como se tivesse sido eu a puxar o gatilho.
É tão injusto que esteja agora o meu amor dentro de uma cela e se preparem para, a reboque do que se diz e escreve, o condenarem a uma vida na prisão. Não aceito este futuro sem ele. Deixo-vos esta carta de despedida. A ti Apolo, meu querido, prometo que serei melhor na eternidade.
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