Porto de Pireu. Navios do tamanho de edifícios. Vento, muito vento. Mas estes navios não precisam dele, não têm velas.
As pessoas agitam-se na estação de metro. Alguns turistas, mas sobretudo gente que quer ir trabalhar. O metro talvez esteja em greve ou seja pouco eficiente. Uns voltam para trás e vão para o autocarro, as caras mostram desagrado. Eu sento-me à espera. Por uma vez não tenho pressa. Vejo cada pessoa que entra, voltar a sair com a cara mudada pela contrariedade. A meu lado carregam entulho e à minha frente uma senhora segura o seu quiosque para que não voe com o vento. Lembra-me o guerreiro, no longo regresso a Itaca, amarrado ao mastro do navio para ignorar o apelo irresistível das sereias.
A carruagem foi-se preenchendo. Tomado por um receio de partir, por equívoco, para uma estação longínqua, por instantes um receio maior do que o do vírus que nos faz cobrir a cara, peço ajuda. Sim, vou para o sítio certo, dizem-me. Só aí verifico a ausência total de desinfetantes e o vírus volta a mandar nos meus receios.
Saio da estação à procura de álcool e sou surpreendido pela visão da acrópole que reina sobre a cidade. Milhares de anos de história em cima daquela colina. Daquela rocha. Homens transformados em deuses e deuses que eram como os homens. Hoje reduzidos à sua representação em imans para frigoríficos, porta chaves e outros souvenirs made in China. Ainda procuro Teseu, Thessias, mas não há. Temos os deuses, Aquiles, olhos azuis e reproduções de edifícios moldados nalgum país asiático.
Plaka é um labirinto de ruas concebido para o turista se sentir perdido. Procuramos perder-nos quando viajamos para irmos ao encontro do cliché da autodescoberta, da viagem interior. Para, no falso alívio após o reencontro do caminho, nos sentirmos como Ulisses quando, uma vida depois, reencontra a costa familiar da sua ilha.
Em cada esquina, olhando para cima, de novo a acrópole. Parece desafiadora, altiva. Amanhã irei lá estar.
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