A Estrada de Cormac McCarthy.
Thursday, November 26, 2009
Estou a ler...
A Estrada de Cormac McCarthy.
Friday, November 20, 2009
Whatever works
Saturday, November 07, 2009
Ainda a religião
"«Deus castiga o Egipto com as pragas, só porque o faraó se mostra inflexível», disse então, «mas foi o próprio Deus que o fez assim! E fê-lo assim para depois poder demonstrar o seu poder! Que Deus vaidoso e presumido! Que gabarola insuportável!»"
ou ainda
"«Acho uma religião em cujo centro se encontra uma cena de execução repugnante (...) Imagina que teria sido uma forca, uma guilhotina ou um garrote. Imagina como é que teria então sido o nosso simbolismo religioso.»"
Mas a questão fundamental é que não acredito que Saramago tivesse como intenção causar choque ou perplexidade, muito menos indignação, estava apenas a escrever um livro. O que devemos analisar, mais do que as palavras escritas no livro e as reproduzidas pela comunicação social, é a reacção da sociedade. Parece que hoje temos que ser partidários ou da Igreja, da moral e bons costumes ou de Saramago e das suas ideias blasfemas. Vivemos num mundo a preto e branco em que o extremismo não nos permite parar para reflectir.
Em última análise é apenas um livro, uma obra de ficção que não tem que ofender ninguém e muito menos as suas crenças religiosas. Que os seus editores estão satisfeitos com a polémica, não duvido. Também espero que o tempo em que os livros eram proibidos e queimados não volte.
Thursday, November 05, 2009
Religulous
Monday, November 02, 2009
Projecto sem nome inspirado em Homeless Giant Parte I
Lembro-me como foi. Era verão, as pessoas pareciam absurdamente felizes por abandonarem, por uma ou duas semanas, as suas vidas. Como manadas, com a mesma vibração com que todos os dias atravessavam pontes para ir trabalhar e enfrentavam a longa espera, migravam de norte para sul e de este para oeste. Os automóveis, rugindo em competição, enchiam as estradas. Nas cidades de paragem, os negócios prosperavam, vendiam-se cafés ali, cozido à portuguesa em outro local, pinhoadas e camarão do rio na Ponte, recordações feitas de barro. Os comerciantes, antigos homens do campo, viam-nos chegar e partir enquanto contavam os euros que lhes iam enchendo a registadora. Quem ficava no norte e no interior, queimava o tempo a ver ciclistas, futebolistas e festas em directo pela televisão. Tentavam esquecer a pouca sorte de não se poderem juntar aos seus vizinhos naquele êxodo.
As televisões e os jornais enchiam-se de notícias que não eram notícias, de reportagens que nada reportavam, de entrevistas a pessoas conhecidas que tinham as suas verdades a anunciar ao mundo como o seu restaurante preferido, ou quem pensavam que ia vencer o campeonato de futebol, ou se preferiam bolos com ou sem creme. As notícias rareavam, os jornalistas com discernimento estavam de férias. Eram só cães a morder homens.
Até que, de repente, surgiu a notícia. De início, um repórter bronzeado tentando fazer humor com a situação, a tentar transformar a notícia numa não-notícia ou num sketch humorístico. Ao seu lado, todos procurávamos a cara envergonha sob o peso daquela chacota. Mas não víamos mais que a cintura de alguém andrajosamente vestido.
Quando a câmara num ângulo impossível lhe captou a face apontando para o céu, fiquei incrédulo. Aquela cara, eu que a tinha tentado esquecer com tanta força, perseguia-me na minha própria televisão.