Monday, June 27, 2005

Ontem ouvi (ao vivo):

Adormecido
No cenário da tua vida
aclamas noites alucinantes
de gentes estonteantes
que são tanto como tu

No teatro do teu olhar
há quem note que a coragem
não passa de uma miragem
com preguiça de gritar

No repetir do teu mostrar
inventas-te uma história
que em ti não há memória
porque sabes que não é tua...

Houve alguém que te conheceu
Que te faz tremer ao passar
porque nunca a deixaste de amar...
Continuas a ensaiar
a conveniência do sorriso
o planear do improviso
que te faz sentir maior
no artifício dos teus gestos
pensas abraçar o mundo
quando nem por um segundo
te abraças a ti mesmo
e assim vais vivendo
e assim vais andando aí
e assim vais perdendo em ti
tudo aquilo que nunca foste...
Houve alguém que te conheceu
Que te faz tremer ao passar
porque nunca a deixas-te de amar
Quando um dia acordares
numa noite sem mentira
e te vires onde não estás
vais querer voltar para trás.
Toranja, Esquissos

Monday, June 20, 2005

Ontem li: (do meu amigo Poeta)

Simposium De Mim

Eram dias oblíquos numa vida estranha,
Foram dias crus nesta rotina mundana...
Desta vida guardei muito pouco,
Sou louco!

Mas de quando em vez esqueço-o
Absorto em normalidade,
Perdido em trivialidade,
O ser e o não ser
Em eterna contradição,
Perpétua convulsão...

Em mim!

A Incapacidade de agir,
Fadista da alma sem a saber cantar,
Criatura sem garra sem saber amar.
Cantor sem voz num mundo de palavras ocas...

Enquanto desfilam as outras,
Aquelas criaturas loucas,
Tão mais sanas do que eu,
Vendo-as passar ao sabor do tempo,
A idade marca a hora de tantas derrotas agudas,
Neste mundo de palavras mudas.

Poeta sem pena nem esperança!

Alguém que escreve
num papel a lembrança,
Do que foi sem nunca ter sido...

Poeta perdido!




Gabriel Gonçalves

Monday, June 13, 2005

Eugénio de Andrade 1923-2005


Os elementos irão agora receber quem melhor os cantou. Eugénio é agora rosa na rosa, canto na ave e água no mar. A sua poesia irá manter-se como chama acesa da sua memória.

Wednesday, June 01, 2005

Ontem li:

Demasiado Humano

Escancarei, por minhas mãos raivosas,
As chagas que em meu peito floresciam.
Versos a escorrer sangue eis escorriam
Dessas chagas abertas como rosas…

Assim vos disse angústias pavorosas
Em versos que gritavam… ou sorriam.
Disse-as com tal ardor, que todos criam
Esse rol de misérias fabulosas!

Chegou a hora de cansar… cansei!
Sabei que as chagas todas que aureolei
São rosas de papel como as das feiras.

Que eu vivo a expor minh’alma nas estradas,
Com chagas inventadas retocadas…
Para esconder bem fundo as verdadeiras.

José Régio